ENTREVISTA: Sonia Rodrigues e o projeto Almanaque da Rede

Postado por: PEDAGOGA 2012 às 15:15

 


Criado com base na metodologia Autoria, desenvolvida pela escritora, jornalista e roteirista Sonia Rodrigues a partir de sua tese de doutorado, o projeto Almanaque da Rede pode ser definido como um jogo-laboratório de escrita criativa e cultura digital, que tem por objetivo estimular o desenvolvimento da leitura e ensinar técnicas de escrita a todos os alunos da Rede Pública Estadual de Ensino.

Há 12 anos na criação de games educativos virtuais, a Doutora em Literatura pela PUC-Rio especializou-se em dissecar a construção narrativa, o jogo que se estabelece entre autor, texto e leitor, debruçando-se ainda sobre a memória e a imaginação como possibilidades de cantar alegrias, suavizar dores e administrar loucuras.

Para conhecer mais sobre a grande iniciativa que vem reinventando a história da educação nacional, o portal Conexão Professor conversou com a sua idealizadora, que já possui 23 livros publicados, dentre eles o consagrado “O amor em segredo” e a Coleção Reconstruir, que consta dos títulos “A ilha dos amores/Eros e Psiquê”, “Eu sou Maria/Os doze trabalhos de Hércules”, “O prêmio/A Ilíada”, “A garota dos seus sonhos e o cara quase perfeito/A Caixa de Pandora”. Confira a íntegra da entrevista.

Conexão Professor (CP) – Gostaríamos de conhecer mais sobre o projeto. Em que consiste o Almanaque da Rede?

Sonia Rodrigues -
 O Almanaque da Rede é uma ferramenta de apoio aos professores e de produção textual de escrita criativa para os alunos. O projeto foi idealizado para existir em papel e também em formato online, visando à prática de uma escrita colaborativa. Então, os alunos escrevem, as pessoas - tanto outros estudantes, como também a equipe do Almanaque - comentam, os jovens fazem uso de jogos narrativos e de resolução de problemas. A ferramenta é, portanto, uma plataforma online de escrita criativa e uma rede social de aprendizagem, além de um suporte em papel para a produção textual em sala de aula.

CP – E qual é, de fato, a sua proposta? O que motivou a criação do Almanaque?

Sonia Rodrigues –
 Transformei minha tese de doutorado sobre RPG (Role-playing game) no jogo “Autoria”, presencial de criação de histórias. Na realidade, há 12 anos desenvolvo jogos em papel e digitais, na linha da resolução de problemas e da escrita criativa. O Almanaque é uma síntese de todos os jogos que eu criei até agora e atua sobre as dificuldades principais da expressão escrita. Vale destacarmos o jogo da escrita criativa, que contém os jogos da dissertação, da mensagem, da descrição e da narrativa.

CP – Quais os principais obstáculos enfrentados pelos estudantes na prática da escrita?

Sonia Rodrigues –
 A principal dificuldade é que os alunos não conhecem a importância de organizar o pensamento antes de escrever. Organizando o pensamento também se aprende. O jornalista aprende que, quando vai entrevistar alguém, ele precisa saber “o quê”, “onde”, “quem”, “como”, “quando”, “por que”, “para que”, enfim, de forma a organizar um texto. E os alunos não aprendem a premissa básica da escrita. Muita gente pensa que escrever é uma questão de imaginação e criatividade. E não é. Imaginação e criatividade são alguns dos fatores, mas não o principal. A pessoa pode escrever e se comunicar corretamente, conseguir um emprego, passar num vestibular sem usar tais recursos. Se você tiver apenas imaginação e criatividade, você não alcança qualquer conquista. Agora, se você tiver o pensamento organizado e for competente na expressão escrita, e tiver imaginação e criatividade, aí o céu é o limite.

CP – Fale um pouco sobre a metodologia “Autoria”?

Sonia Rodrigues –
 A metodologia “Autoria” consiste em facilitar, em desvendar, em revelar para as pessoas os caminhos para se tornarem autoras, sujeitos do próprio pensamento. Com o domínio desta ferramenta, é possível organizar o pensamento de uma forma lúdica, de uma forma divertida, de uma forma amigável. Trata-se daquilo que toda criança deveria aprender a partir dos quatro anos de idade e não aprende... A metodologia “Autoria” é uma plataforma que, em papel ou online, organiza isso. Oferece caminhos para as pessoas exercerem a sua imaginação e criatividade. Online o efeito é instantâneo.

CP – E como funciona na prática?

Sonia Rodrigues –
 Na prática funciona assim: nós temos online, no Almanaque da Rede, jogos. E esses jogos formulam perguntas aos usuários que, por conseguinte, vão respondendo e produzindo um texto corrido. São jogos de resolução de problemas que sugerem uma situação e também disponibilizam uma biblioteca de personagens para as pessoas escolherem. Então, a gente usa o suporte tecnológico para oferecer aos estudantes caminhos para que eles entendam como se preenche essas lacunas, como o nosso pensamento se encaminha naturalmente para isso.

CP – A proposta de inclusão digital gera alguma resistência por parte de alunos e professores?

Sonia Rodrigues –
 De forma alguma. Os alunos não apresentam a menor resistência. Os jovens que começam a fazer aprendem e adoram. Funciona mesmo como uma rede social de aprendizagem muito interessante. O Almanaque da Rede online restringe-se aos alunos. Professores podem conhecer, mas não participar. Em sala de aula existe o Almanaque de Papel. São 210 mil alunos da rede que possuem um exemplar neste formato. Então, o professor sugere temas e o aluno escreve no Almanaque. Muitos professores corrigem durante a aula e a ferramenta pode, inclusive, fazer parte da avaliação. Existem casos maravilhosos de uso do Almanaque em sala de aula. 

CP – Daqui para frente, o que você imagina para o projeto?

Sonia Rodrigues –
 Existe uma ideia, que é para o ano que vem, de se inscreverem no Conexão Professor os professores interessados em trabalhar o Almanaque em sala de aula, informando quantos alunos possuem e a série em que lecionam. Este ano o projeto contemplou apenas a 1ª série do Ensino Médio. A gente pretende realizar uma pesquisa para detectar quantos professores possuem interesse e não só de Português, mas de qualquer disciplina. E estamos oferecendo também um concurso muito atraente que é para o Almanaque de Papel. O professor que enviar mais cópias de redações de seus alunos vai ganhar uma viagem para Porto Seguro na Bahia, em dezembro, com direito a acompanhante. Acredito que a premiação em si é fundamental, pois valoriza aqueles que estão de fato usando o Almanaque, que estão estimulando a criatividade dos alunos. E os 12 estudantes da Rede Estadual de Ensino premiados com as melhores redações ganharão acesso a um curso de Inglês durante todo o ano que vem. O resultado, sem dúvida, será muito positivo.

CP – A partir do Prêmio Almanaque da Rede, com a primeira edição realizada em junho e a segunda em agosto, há uma valorização não só do desempenho do aluno, mas de sua participação. Por quê?

Sonia Rodrigues –
 Na verdade, a gente valoriza essencialmente a participação. A nossa mediação em relação ao desempenho na escrita é muito amigável. A equipe do Almanaque comenta o texto dos alunos todos os dias, mas nunca tudo de uma só vez. Os alunos cometem muitos erros de ortografia, de concordância, e a gente hoje dá um toque, amanhã dá outro. O mérito principal é escrever. Porque se você escreve todos os dias, você aprende a escrever. Se você escreve todos os dias e todo dia há alguém que lê o que você escreve, alguém que comenta o que você escreveu, você aprende a escrever. Então, os vencedores do Almanaque da Rede são alunos de 19 a 25 coordenadorias, sendo que tem 30 no estado. Ou seja, em todo o Estado do Rio de Janeiro existem alunos que escreveram muito. Isso é o que a gente valoriza. E a gente possui vídeos com entrevistas de alunos no YouTube, em breve o Almanaque estará no Conexão, temos tutoriais, ensinamos a trabalhar a ferramenta em sala de aula... O Almanaque, definitivamente, usa muito as novas mídias para a inclusão digital. 

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